O Pastejo Rotacionando na Produção de Caprinos e Ovinos para Corte

A demanda por carne caprina e ovina têm aumentado substancialmente nos últimos anos e a região Nordeste do Brasil tem sido apontada como de grande potencial para suprir essa procura através da produção intensiva. No entanto, o sistema de produção adotado na maioria das propriedades rurais é semi-extensivo ou extensivo, limitando o fluxo constante de animais abatidos, entre outras causas, pelo fornecimento de alimento oriundo da vegetação nativa de caatinga, abundante apenas na época chuvosa. Desta forma, surge como opção o uso de forrageiras exóticas para formação de pastagens cultivadas, em sistemas de pastejo mais intensivos de modo a garantir produtividade constante.

O pastejo rotacionado é uma prática de manejo que consiste em alternar o uso do pasto, pela divisão dos mesmos em piquetes, de modo a permitir que o animal utilize o pasto por determinado período (1-5 dias) em função de sua qualidade e disponibilidade. O período de ocupação é seguido por um período de descanso, que serve para a planta repor nutrientes e produzir forragem para o pastejo dos animais. Tanto período de ocupação como de descanso variam em função de aspectos ligados ao manejo e a fisiologia da planta forrageira.

A princípio, qualquer planta forrageira tolerante ao pastejo pode ser usada rotativamente. No entanto, quando pensa-se em intensificar a produção, a escolha da espécie forrageira deve obedecer alguns critérios: hábito de crescimento preferencialmente cespitoso, porque essas plantas são mais produtivas e permitem uma melhor penetração dos raios solares entre as folhas auxiliando no controle de verminoses, que são um problema para a produção de pequenos ruminantes. O fato de se escolher preferencialmente cespitosas, não exclui a possibilidade de uso de gramíneas estoloníferas, como o capim-gramão (Cynodon dactylon), no entanto, gramíneas desse tipo são mais utilizadas em sistemas de pastejo em lotação contínua e seu uso em pastejo rotacionado na região Nordeste ainda se encontra em estudo. Outras características que devem ser buscadas na planta são: perenicidade, boa aceitação pelo animal, bom valor nutritivo, tolerância a pragas e doenças. Na tabela 1 estão listadas algumas espécies e os períodos de descanso mais apropriados para seu uso no pastejo rotacionado.

Tabela 1 – Períodos de descanso para algumas gramíneas cultivadas.
Gramínea Período de descanso (dias)
Capim-elefante (Pennisetum purpureum) 35-45
Capim-colonião(Panicum maximum) e cultivares 30-35
Capim-andropogon (Andropogon gayanus) 25-30
Fonte: RODRIGUES e REIS (1997)

A Embrapa Caprinos tem conduzido trabalho de pesquisa para produção intensiva de carne ovina em pastejo rotacionado. Os resultados obtidos com capim-tanzânia (Panicum maximum), são de ganhos variando entre 3.600 e 4.800 kg/ha em taxa de lotação com 40 e 60 cordeiros/ha, respectivamente, fazendo uso dos insumos: adubação e irrigação.

A introdução de insumos é importante em sistemas de alta produção, pois esses sistemas precisam de um aporte maior de nutrientes para serem sustentáveis. A entrada de nutrientes e água (estrategicamente na época seca) pode ser então utilizada para elevação da produção de forragem e, consequentemente, para o ganho animal. No entanto, sendo o fator água limitante em muitos casos, uma opção que surge para minimizar os efeitos de redução de densidade de nutrientes na época seca é o uso de suplementos à base de ingredientes regionais, como feno de leucena e raspa de mandioca, para garantir o atendimento das exigências nutricionais dos animais mantendo-os produtivos mesmo quando o pasto é escasso.

A opção pela intensificação da produção de carne ovina a pasto deve ser uma decisão tomada pelo produtor rural levando em consideração benefícios e custos que o sistema envolve. Os aspectos que foram abordados nesse artigo alertam para a necessidade de uso de insumos e manejo correto do pasto (período de descaso e período de ocupação), para a obtenção de ganhos que variam de acordo com a taxa de lotação. Logo, planejar o sistema de produção é o passo inicial e fundamental para que possa se obter sucesso na produção de carne caprina e ovina, sendo competitivo, num mercado que a cada dia cresce mais.

Para saber mais:
CARVALHO, P.C.F. Pastagem cultivada para caprinos e ovinos. In: SEMANA DA CAPRINOVINOCULTURA BRASILEIRA- PEC NORDESTE, 3, 2002, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Federação de Agricultura do Estado do Ceará. 2002. p. 22-43.NEIVA, J.N. Uso do pastejo rotacionado para a produção de ovinos. In: SEMINÁRIO NORDESTINO DE PECUÁRIA, 6, 2002, Fortaleza. Anais...Fortaleza: FAEC, 2002. p.200-207. RODRIGUES, L.R.A.; REIS, R.A. Conceituação e modalidades de sistemas intensivos de pastejo rotacionado. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 14, 1997, Piracicaba. Anais...Piracicaba: ESALQ/USP, 1997. p 1-24.

09/10/2003 - Ana Clara R. Cavalcante (Pesquisadora Embrapa Caprinos)

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